Ano: 2014 / Páginas: 328 Idioma: português Editora: Paralela |
"Ela estava presa como eu, mas presa por sua mente, pela mente das pessoas em volta dela, não por lei. Na Igreja Africana, sr. Vesey dizia: "Cuidado, você pode ser escravizado duas vezes, uma vez pelo corpo e uma vez pela mente"
Se tivesse que escolher uma passagem que sintetizasse "A Invenção das Asas"... seria esta.
Sue Monk Kidd resgata a história de Sarah e Angelina Grimké, mais conhecidas por "irmãs Grimké". As duas, vindas de uma família aristocrata da Carolina do Sul, se destacaram por lutar pelas causas abolicionista e feminista no século XIX. Em "A Invenção das Asas", a história delas é permeada pela narrativa de "Encrenca" ou Hetty Grimké, a escrava de companhia de Sarah, que, apesar de ter possivelmente existido, tem sua vida imaginada pela autora do livro.
Em primeira pessoa, Encrenca e Sarah seguem em narrativas paralelas, cada uma com sua dor. Sarah está aprisionada a seu gênero, a sua classe, sua religião e família. Encrenca pela sua cor e condição de escrava. Ambas, com o passar do tempo, vão, cada a uma a sua forma, inventar suas asas.
Angelina, mais nova, aparece depois. Como sua madrinha, Sarah vai projetar em Angelina todo o empoderamento que não conseguiu ter em sua vida, munindo-a de segurança e de uma mente questionadora e revolucionária.
Achei maravilhoso o fato de Monk Kidd trazer à tona o tema por duas perspectivas, destacando que a escravidão foi um sistema que espalhou um sofrimento não só para suas principais vítimas. Sarah é impotente, está tão aprisionada pelo que dela se espera, que não consegue ultrapassar as barreiras impostas pela sociedade e, sobretudo, pela sua família. Encrenca, por outro lado, é muito mais emancipada, mesmo com os castigos e humilhações a que é submetida. Quem tem pouco, também tem pouco a perder. Esta dualidade de aprisionamento mental/corporal vai delineando os caminhos do livro do início ao fim.
A escrita de Monk Kidd é simples, cativante e envolvente. Mas, Sarah começou a me fatigar um pouco do meio para o final do livro, o que me fez perder um pouco o ritmo, só recuperado nas partes finais.
É um lindo livro, sem dúvida, e feminista do começo ao fim, mostrando como a escravidão e o machismo silenciaram vozes ao longo da nossa história, mas também como nós mesmos somos capazes de nos escravizar e oprimir, deixando que outras pessoas determinem nossas vidas. É uma mensagem de emponderamento, resistência e liberdade.
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