Edição: 1 Editora: Martin Claret Ano: 2014 Páginas: 780 |
Em Lowood, apesar das dificuldades em relação a salubridade do local, Jane consegue fazer amizades e é educada com afinco, vindo a se tornar posteriormente uma das professoras da Instituição. Mas ela sempre teve uma alma inquieta e decide conhecer o mundo fora daqueles muros.
Procura emprego como governanta e o encontra em Thornfield, um casarão antigo, em que fica responsável pela educação de Adele, uma criança francesa de proveniência inicialmente desconhecida, mas que é cuidada pelo Sr. Rochester, o peculiar e interessante proprietário da mansão. Não demora muito para surgir um romance entre Jane e seu patrão.
Até aqui, não vemos nada muito diferente de Cinderela, não é mesmo? Acontece que Bronte vai muito além da história tradicional da garotinha pobre que depois de muito sofrimento termina por conquistar um príncipe (traduzindo: alguém bonito, educado e rico).
De início, a narrativa parece se voltar ao temperamento de Jane, sua inconformidade por aquilo que julga injusto e seu desejo imenso de amar e ser amada. Em Lowood, Jane é notada pela primeira vez, é considerada, desenvolve uma tocante amizade com Helen Burns e se sai bem em seu deveres e obrigações.
Neste período é notável o amadurecimento da personagem, que aprende a viver no meio de pessoas e assumir responsabilidades. Digo viver no meio de pessoas porque antes ela praticamente vivia em solidão contínua, poucos eram os diálogos que não advinham de ordens e reclamações. O engrandecimento do seu caráter fica visível na posterior tentativa de reconciliação com sua tia Reed.
Quando Jane chega a Thornfield é uma mulher resoluta, simples e solícita. Devido a sua vivência, ela fica bastante desconcertada com a polidez e afeição, o que a torna a companhia perfeita para o rabugento Sr. Rochester. Ele não é bonito, educado ou galante, muito pelo contrário. O fato de ser rico, ao fim do livro, não terá importância alguma.
Os diálogos entre Jane e seu patrão são inteligentes e interessantes, é incrível o dom de Brontë para compô-los. Jane é direta, humilde e decente ao contrário da demais mulheres que cercaram ou cercam a vida do Sr. Rochester, o que também, em minha opinião, termina em uma crítica a frivolidade que habitava a vida das pessoas ricas. Charlotte Brontë segue a linha dos romances de sua época mas também destes destoa por meio de críticas sociais e sobretudo, no que se refere à emancipação feminina, o que terminou em um sucesso de vendas e uma cutucada na moral vitoriana. Em "Jane Eyre" as mulheres trabalham para se sustentar e não apenas se casam. Ganha destaque a educação como forma de independência.
A história conta com traços góticos. Castelos assombrados, noites escuras, vultos e névoas permeiam com facilidade a narrativa, dando ares de suspense e mistério. Por outro lado, temos composições de cenas belíssimas, do alvorecer ao crepúsculo e noites de lua cheia.
Achei a leitura bastante fluida, tanto me distraiu que mau notei que estava driblando o grande número de páginas. Acompanhar a vida de Jane fez parte da minha rotina durante uma semana. Uma história sincera, profunda e sensível, já é uma das favoritas.
Edição _________________
Somos os tradutores dessa edição lançada recentemente pela Martin Claret. Por nossa dedicação e cuidado com o nosso trabalho, ficamos felizes pela sua opinião sobre a fluidez do texto, um dos nossos inúmeros cuidados ao traduzir. Carlos Duarte e Anna Duarte.
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