sexta-feira, 10 de julho de 2015

"O Sol é Para Todos" (Harper Lee)



Edição: 1
Editora: José Olympio
Ano: 2015
Páginas: 350
A pequena Jean Louise, ou Scout para os mais conhecidos, uma garotinha de 6 anos, nos leva ao Condado de Maycomb, uma cidade fictícia no interior do estado do Alabama, onde vive com o pai, um advogado chamado Atticus, seu irmão Jem e a governanta Calpúrnia, em 1930, na época da Grande Depressão.

O livro se divide em duas partes, a primeira se propõe a caracterizar a cidadezinha e seus habitantes, bem como descrever a rotina e as brincadeiras de Scout, Jem e Dill, um amigo da vizinhança. Eles passam boa parte das suas férias tentando desvendar os mistérios que cercam Arthur Radley, mais comumente chamado de Boo Radley, um homem recluso e com dificuldades em socializar . Em meio a planos e confusões, eles tentam a todo custo fazer Boo sair de casa para que possam vê-lo.

A sociedade de Maycomb se dividia quase que em castas, havia os brancos, os brancos que viviam no lixão, os negros e os camponeses. Mas, excetuando os questionamentos de Scout sobre as regras sociais rígidas e da necessidade de ir para escola, o Condado aparece como um lugar tranquilo e rural, onde as pessoas sabem seu devido lugar e
desempenham seus papéis com excelência.

Esta tranquilidade é ameaçada quando Tom Robbinson, um negro, é acusado de estuprar a filha do Sr. Ewell, um dos brancos que vivem no lixão, e Atticus, é convocado para defendê-lo.

A partir daí, as coisas começam a mudar para Jean Louise e sua família. O peso do preconceito racial e social é carregado não só por Tom Robbinson, mas por todos que demonstram alguma empatia ou respeito por ele.
"Seu pai tem razão. O rouxinol não faz nada além de cantar para o nosso deleite. Não destrói jardins, não faz ninho nos milharais, ele só canta. Por isso é um pecado matar um rouxinol"
O belíssimo livro de Harper Lee nos mostra como o preconceito dos adultos se infiltra de uma forma arrasadora no mundo das crianças. E estas, por não entenderem o valor da discrição, podem reproduzir este preconceito de maneira desinibida, ao contrário dos pais, que o mantém de forma velada, dissimulada.

Para Scout, nada disso faz o mínimo sentido. Apesar de saber que as pessoas a ofendem na escola, ela não entende porque está sendo discriminada. As suas inquirições e decepções denunciam como um estereótipo é capaz de mudar vidas.

Atticus parece ser a personificação da sabedoria, bom senso e da calma. Os diálogos sensíveis entre ele e Scout ou Jem são verdadeiros ensinamentos de vida. A leitura poderia ser dura e densa, se a perspectiva não fosse terminantemente infantil. As conclusões e críticas do livro se alinham a esta perspectiva, mas isso não o torna frágil ou bobo, muito pelo contrário, nos faz repensar questões básicas e importantes sobre igualdade, dignidade, respeito e, sobretudo, compaixão.

Scout é uma personagem encantadora que em determinados momentos chegou a me lembrar de Alice (Lewis Caroll), não sei bem o por quê, talvez pela sua determinação, teimosia e curiosidade infindas, sobretudo no que diz respeito às cobranças de sua Tia Alexandra pra que se comporte como uma dama. Apesar do gênio forte, Scout é uma criança adorável.

O livro, com sua prosa leve e sutil, mas também perspicaz, ultrapassa a temática do preconceito. É um livro sobre pessoas e relacionamentos, sobre sociedade e hipocrisia, sobre padrões sociais e justiça. Pelos olhos inocentes de Scout, Lee, delicadamente, nos leva a ver o quanto esquecemos de que somos todos humanos.

"A única vantagem que aquele homenzinho no banco de testemunhas possuía em relação aos seus vizinhos era que, se fosse esfregada com sabão de lixívia e água bem quente, a pele dele era branca"
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