quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

"Trainspotting" (Irvine Welsh)

Edição: 1
Editora: Rocco
Ano: 2004
Páginas: 352
Tradutor: Daniel Galera, Daniel Pellizzari

O que é Trainspotting?

"Trainspotting" é o nome dado a um hobby que consiste em ver todos os trens em operação de determinado local. Isso mesmo. A atividade nada mais é que pegar uma lista dos trens que estão em circulação e ver todos eles, alguns trens são bem difíceis de serem vistos e isso dá uma "animada" na busca.

Só que a expressão terminou ganhando o significado de atividade banal, uma perca de tempo, algo fútil de se estar fazendo e este é o sentido utilizado para o título do livro.

Autor e Obra

Drogados, "bad boys", suburbanos, violência. Este é o ambiente em que Welsh gosta de chafurdar. Trainspotting foi o seu primeiro romance, publicado em 1993 e imortalizado nas telas do cinema por Danny Boyle, em 1996.

Welsh nasceu em Edimburgo, Escócia, que também é o cenário principal
de Tranispotting, livro que tem como base o diário do próprio autor anos antes de sua publicação. O autor  conta com outros romances, entre eles "Pornô "(2002), a continuação de Trainspotting, e "Skagboys" (2012), o penúltimo do autor, que também conta com personagens de Trainspotting.

Trainspotting trata de um grupo de amigos, Renton, Sick Boy, Madre Superiora, Spud, Cisne, Seeker e outros, cuja a maior ocupação é drogar-se no subúrbio de Edimburgo.  A história a acontece por meio de relatos, caminhando de forma não linear e variando de narrador. São episódios que descrevem a realidade desses jovens que vivem a margem da sociedade, utilizando drogas, arrumando confusão e praticando alguns crimes.

"Trainspotting" 

"A sociedade inventa uma intrincada lógica falsa pra absorver e mudar as pessoas que têm um comportamento fora do normal. Suponhamos que eu conheça todos os prós e contras, que saiba que terei uma vida curta, que tenha uma cabeça no lugar, etc, etc., ms que ainda assim queira usar heroína. Eles não vão deixar. Não vão deixar porque isso é visto como um sinal do seu próprio fracasso. O fato de você simplesmente rejeitar o que eles oferecem. Nos escolha. Escolha a vida. Escolha pagamentos de hipoteca. Escolha máquinas de lavar. Escolha carros. Escolha ficar sentado num sofá assistindo a programas de auditório que atrofiam a mente e esmagam o espírito,enfiando uma merda de junk food goela abaixo. Escolha apodrecer mijando e se cagando em casa, um constrangimento total pros pirralhos egoístas e fudidos que você gerou. Escolha a vida."

E se tudo que a sociedade clama não significar absolutamente nada para você? É assim com os icônicos personagens de Trainspotting. Vivendo no subúrbio, sem perspectiva alguma de futuro, Rents e seus amigos vivem uma vida vazia e fútil. Não há palavras que consigam descrever melhor a vida destes jovens que futilidade e alienação. 

O niilismo e a ausência de idealização da pessoa do drogado é bem marcante na obra de Welsh. Há críticas bem diretas ao capitalismo, à sociedade em si, mas o ponto central de trainspotting é contar a rotina e as desgraças de ser um viciado em drogas. Aids, gravidez, morte, brigas e crimes também permeiam a história. 

Em meio a gírias e palavrões, a leitura caminha facilmente, existem episódios divertidíssimos, em que não dá para conter o riso, mas também há descrições detalhadas de momentos terríveis na luta contra o vício e a batalha até o próximo pico.

Heroína é a droga preferida e  o objeto de maior apreço da maioria dos personagens do livro. Boa parte da obra se resume à busca desenfreada por mais heroína ou à tentativas frustadas de vencer o vício e, em se tratando de drogas, pode esquecer os preceitos morais, o egoísmo é muito bem vindo. 

"Dilemas de um viciado nº 67: ... É claro que eu tô com medo, tô cagando nas calça, mas o eu que tá se cagando é um eu diferente daquele que tá esmigalhando os comprimidos. O eu que tá esmigalhando comprimidos diz que a morte não pode ser pior do que não fazer nada para interromper esse declínio persistente. Esse eu sempre vence as discussões. Nunca existem verdadeiros dilemas com o vício. Eles só a parecem quando cê fica sem nada"

É ácido e instigante, mas altamente repetitivo. A história, que na verdade são relatos não-lineares, se atém um ciclo vicioso: se drogar, procurar drogas, tentar parar, se drogar novamente. 

O desfecho é interessante e inesperado, salvo para quem já assistiu o filme (ou seja, quase todo mundo, rs.). Para quem se interessa pela temática das drogas, indico muito esta leitura, como também indico o livro "Um Preço Muito Alto" de Carl Hart. Para quem não gosta muito desse mundo underground, não aconselho a leitura.
"Só dizer não. É fácil. Escolha a vida. Mim quer heroína"
Edição _________________





Sobre o Filme 

Sobre o filme, nem preciso falar muito, é um queridinho no mundo do cinema. A adaptação é realmente de muita qualidade. O filme conseguiu sugar tudo que há de realmente substancial no livro, compactando-o, de forma que, pra quem já viu o filme, a leitura pode parecer um pouco mais escassa ou repetitiva. No entanto, no livro, é  mais notável o vazio que existe na vida dos personagens, seus pensamentos e suas sensações, o que o torna um pouco mais conectado com o leitor e mais real que o filme. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário