Nascido em Washington, EUA, Chuck teve uma vida conturbada e marginalizada. Mais ou menos o ambiente da maioria de suas obras. "Clube da Luta" é seu maior sucesso e seu primeiro livro publicado.
A escrita de Chuck é inconfundível. Se você lê uma vez, sempre saberá quando estiver lendo novamente porque ele é muito marcante. Sempre abordando temas perturbadores e violentos, ele consegue ser crítico, feroz e ao mesmo filosófico.
"Clube da Luta", publicado em 1996, foi imortalizado nas telonas por David Fincher e até hoje influencia uma série de clubes da luta reais pelo mundo. A acidez do livro não o deixa menos divertido, muito pelo contrário, é uma leitura empolgante e crítica.
Se você vive feliz numa casa decorada, tem o trabalho dos sonhos, sentando em um escritório qualquer e se sente completo, satisfeito e perfeito...Continue sendo feliz, arrume um casamento. Ou leia este livro.
"Nada é estático. Até a Mona Lisa está caindo aos pedaços. Desde que o clube da luta começou metade dos meus dentes está mole"
Um inconveniente para resenhar é que o protagonista não tem nome no livro (no fim você entende o por quê). Mas já que "você não é seu nome", vou tentar contornar esta dificuldade.
Bem, um jovem funcionário tem tudo sobre controle, exceto um coisa: seu sono. Com uma insônia crônica, ele frequenta grupos de apoio a pessoas com parasitas no sangue, câncer de bexiga, demência cerebral ou câncer de testículos para conseguir dormir. Estar nestes grupos é uma forma de desaparecer, de se libertar, de se sentir vivo.
"Aquilo era liberdade. Perder todas as esperanças era libertador. Se eu não dissesse nada as pessoas do grupo sempre supunham o pior e choravam mais. Eu chorava mais. Olhe para as estrelas e desapareça"
Visitando todos estes grupos, cada um em um dia diferente da semana, fingindo ser um dos enfermos, ele consegue voltar para casa e finalmente dormir. Essa rotina se vê ameaçada com o aparecimento de Marla Singer, uma farsante, assim como ele, que começa a ir aos mesmos encontros, fazendo com que ele (nosso protagonista) fique irado e perturbado.
Juntamente com Marla, surge Tyler, que ele conhece em uma viagem de negócios. E, depois de Tyler nada mais na sua vida é igual. Pra começar, assim que volta da viagem, descobre que seu apartamento está em chamas, o que faz com ele se mude para casa de Tyler.
Nesta mesma noite, em um bar, Tyler pede que ele lhe dê um soco muito forte, o mais forte que puder. E a partir daí, começa o Clube da Luta!
"A primeira regra do clube da luta é que você não fala do clube da luta. A segunda regra do clube da luta é que você não fala do clube da luta.."
Para se sustentar, ele continua com seu trabalho em uma empresa de automóveis, responsável por "Recall'" e começa a fazer bicos juntamente com Tyler. A produção de sabonetes e serviços de garçom são algumas das atividades desenvolvidas por Tyler, que ainda trabalha como projecionista de cinemas.
Tyler ainda começa a se envolver com Marla Singer. Isso deixa nosso protagonista completamente enciumado. Mas essas questões logo vão sendo esquecidas, quando o clube da luta começa a crescer, sobretudo com o aparecimento de outros clubes e também de Comissões, entre elas a Comissão de Desordem e Destruição, responsável por cometer uma série de crimes pela cidade. A fabricação dos sabonetes também começa a render mais do que se imaginava. E Tyler, começa a virar uma lenda.
A história não para por aqui, claro, mas eu sim. Não vou contar mais pois não quero estragar os elementos surpresas do livro (que é recheado deles).
A história de Chuck é ácida e inflamável, marcada por humor negro e um minimalismo impressionante. É bem notável a repetição de frases curtas e críticas durante todo o livro. Essas repetições não são cansativas e geralmente possuem sempre uma significação diferente.
O protagonista é uma pessoa comum que se vê em uma vida perfeita e harmoniosa. Mas precisa ir aos encontros dos grupos de apoio para conseguir dormir. Tanto ele como Marla, vão a estes encontros para se sentirem bem com suas vidas ocas e indiferentes. Ver pessoas a beira da morte confere sentido à vida deles.
As críticas à típica vida perfeita mostrada nos comerciais da TV se fazem presente a todo momento na narrativa. Apartamentos pequenos e herméticos, empregos estúpidos, a busca imoral pelo lucro, o aperto das poltronas dos aviões e questionamentos sobre a "segurança nacional", são bons exemplos.
Quem define os padrões de beleza? Pra quê ter o corpo perfeito? Pra quê servem as regras da etiqueta? Qual é o real significado da educação nos dias de hoje? O que se faz depois de terminar uma faculdade? O que se faz depois de arrumar um emprego? E se você não quiser casar?
Terminar uma faculdade não te transforma em nada além do que você já é.
Na verdade, Chuck não deixa de passar seus olhos críticos por nada. Tudo é abordado, refletido e depois escancarado violentamente para o leitor. Esteja pronto para quando ele esmiuçar a imbecilidade e hipocrisia da sociedade contemporânea.
O livro é um retrato vil e desiludido da mentira capitalista, permeado por críticas severas ao consumo desenfreado e desmotivado.
"E eu não era o único escravo do instinto de transformar o lar em ninho. As pessoas que conheço que costumavam ir ao banheiro e levar pornografia agora se sentam na privada com seus catálogos de móveis da IKEA"
Sendo assim, ao contrário do que se ouve por ai, me parece que o cerne dos clubes da luta não é a violência em si, muito menos sadismo, é sobre auto-destruição. É o estourar de uma bomba relógio, é mandar um "foda-se" para uma vida "merda" e sem sentido. Depois de uma luta, você percebe que assistir TV não é viver de verdade, porque lutar é algo muito mais verdadeiro do que sentar em uma bancada em uma sala com janelas de vidro enquanto escreve um relatório sobre as metas da sua empresa.
O clube da luta transforma "itens de mercado" em homens. Coloca-os novamente em contato com sensações humanas: a dor, o fracasso, o esforço e a recompensa. A questão não é a luta em si, mas a verdade que ela carrega, funcionando como a válvula de escape para a mentira da vida agradável.
Não se sente na cadeira e siga aquilo tudo que te mandaram fazer: estudar, se formar, trabalhar e casar, quebre alguma estrutura, mude algo na história.
Tyler aparece justamente como o anarquista e "salvador" do protagonista. Tyler finge se alinhar à sociedade somente para burlar todas as regras, incentivando a todos que cheguem ao fundo do poço, destruam a si mesmos para construir algo novo e livre.
Colocar cenas eróticas em meio a filmes infantis, urinar nas sopas que serão comidas pela alta sociedade e fabricar sabonetes com gordura humana encontrada no lixo hospitalar são alguns dos comportamentos sociais de Tyler.
Em suma, este livro, é um grito anárquico e amoral em contraposição a uma sociedade que teve seus instintos mais primários e vontades esterilizados e sedados pela sociedade do consumo, mas, acima de tudo, é um livro curto, direto e sem lenga lenga. Ah, e divertidíssimo, definitivamente divertidíssimo.
Edição _________________"Que eu nunca me sinta completo.Que eu nunca me sinta satisfeito.Que eu nunca seja perfeito. Me salve, Tyler, de ser completo e perfeito."
Já quero ler!
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